18 dezembro 2006

Entrega de diplomas nos Bombeiros Municipais de Santarém (28 Dezembro 2005)



Num dos nossos almoços habituais de segunda a sexta, dos quais tenho tantas saudades, o meu irmão comentou comigo que ia tirar um curso de bombeiro. Quando o interroguei porquê respondeu com um ar maroto característico de um jovem de 22 anos: “Parece que pagam Eur 200.00”. Julgo que só após a primeira acção de formação se apercebeu que ia realmente integrar o Corpo dos Bombeiros Municipais de Santarém, num voluntariado com uma escala de serviço que o obrigaria a dormir menos horas que o habitual e a deixar-lhe menos tempo livre para a praia, a família, os amigos e a Teresa.

À medida que o curso foi avançando, o interesse do Pedro foi aumentando. Para já o facto de ter quase sempre as melhores notas, surpreendia-o muito. “Nunca fui o melhor aluno a nada... ou eu de repente tornei-me mais esperto ou tenho realmente jeito para isto” dizia ele com um sorriso só dele. Dos serviços de ambulância impressionavam-no muito os casos dos idosos que viviam sozinhos, os acidentes rodoviários. De todos, o que mais o impressionou foi o do bebe que faleceu com dois meses nos braços da mãe, a mesma idade que o sobrinho tinha nessa altura.

Quando eu ouvia tocar a sirene dos bombeiros por vezes ligava-lhe a dizer “Vá mano, não és bombeiro? Larga tudo o que estás a fazer e corre para o fogo!” ou quando ele estava de serviço e dizia que tinha saído na ambulância eu perguntava “desceste pelo corrimão como nos filmes?” Outras vezes eu ligava-lhe, aliás eu passava a vida a ligar-lhe, a perguntar onde é que ele estava e ele respondia “Estou no hospital, mas não te preocupes! É um serviço dos bombeiros.”

Podia estar um dia inteiro a trabalhar e ao final do dia em nada sentir-se realizado; enquanto que bastava-lhe um serviço nos bombeiros, aliviando a dor de alguém, para dar sentido a esse dia. Ser bombeiro despertou-lhe sensibilidades que eu e até ele mesmo desconhecia. Depois de ter assistido a uma morte por afogamento na praia do Baleal, adquiriu um kit de reanimação que trazia sempre consigo. Estava sempre pronto a ajudar o próximo!
Fazia parte do seu projecto de vida abraçar esta actividade a tempo inteiro e tonar-se bombeiro profissional. Ultimamente o entusiasmo era tal, que muitas vezes chegou a dizer: “Qualquer dia ainda tiro o lugar ao comandante”.

Que bom sabermos que “aquilo que está para vir é sempre melhor do que aquilo que já foi”. Este era o lema de vida do meu irmão no qual hoje vos peço que acreditem. Acreditem, como eu, que o Pedro nos protege e nos guia no dia-a-dia. Recordemos juntos a sua alegria.
posted by Patrícia Costa Mateiro

1 comentário:

Anónimo disse...

Minha querida,tenho lido tudo até agora e o meu coração tem gradualmente ficado mais e mais apertado,sentido parte da tua dor.És uma vencedora,pois tens conseguido ir em frente, aproveitando os momentos da vida do teu irmão como lições de vida para ti, partilhando agora com os outros, para que esses também possam usufruir dessa benção. Beijos empáticos AF Min

Pedro Miguel Beja de Jesus Costa

N 08.04.1983 / F 13.09.2005