Não quero falar muito de motas. Por isso começo por aí: porque a mamã tinha uma Bordeaux e eu, uma vermelha. Uma das nossas actividades favoritas aos 16 anos era faltar às aulas de alemão para ir até Almeirim jogar snooker. Andar de mota nos courts de ténis de Santarém, subir todas as ladeiras que podiam ser possíveis com uma acelera (o tipo de mota que tínhamos) e rir à gargalhada sem parar. Chegámos mesmo a encurralar uma velhota que vinha na passadeira: uma de nós passou com a mota pela frente da velhota e a outra por trás, ao mesmo tempo. Não foi muito simpático. A tua mamã que, tinha sempre azar com o seu nariz, conseguiu levantar voo literalmente do banco da mota e aterrar no vidro de trás de um camião. E partiu o nariz. Por vezes à noite, mesmo proibidas pelos nossos respectivos pais lá íamos a Almeirim á noite. A verdade é que nos divertimos muito, João. O vento que nos cortava à cara em cada viagem, os sonhos que se elevavam quando nos sobrepúnhamos no guiador, as gargalhas que ecoavam na recta do tribunal, as ultrapassagens na estrada de campo para Alpiarça. As nossas motas foram ouvintes das nossas memórias, meios de transporte entre cidades, arquivador de poemas e luzes no lusco fusco. As nossas motas chegaram mesmo a ser transportadoras de bolos, queques, quiches, salgadinhos, tarteletes, tartinhas, bolachas, que a mamã e eu fazíamos para ganhar algum dinheiro para as férias e depois íamos distribuir no infantário onde a minha mãe trabalhava, vendíamos a amigos e trabalhávamos por encomenda. Era um bom negócio que a tia Inês tinha ali onde a mamã participava activamente. As motas serviam também como meio de transporte para dar umas explicações à nossa única aluna - a Márcia, as nossas motas foram quase carroças para nos trazerem das vindimas, onde, eu fui mordida grandemente por uma vespa que na perna - entretanto mudamos de ideias e começamos a ir com outra amiga da mamã - a lurdes - de carro, o mini. A minha mota vermelha serviu-me de inspiração para escrever um par de artigos sobre a "vespa", umas motas antigas que marcaram o mundo, isto num jornal onde trabalhei enquanto a tua mamã viveu na Finlândia. Um dia mostro-te e explico-te com pormenor, a alma da vespa e o som que faz quando nos fala ao ouvido. Fizemos coisa proibidas, queríamos coisas proibidas, desbravamos caminhos proibidos. Éramos muito novas e isso era uma coisa normal. As motas fizeram-nos felizes. O teu tio Pedro passou uma grande parte do seu crescimento a ver-nos de um lado para outro com mil ideias e projectos, tinha amigos mais velhos com outro tipo de motas, de vez em quando pedia emprestado a mota à mãe Patrícia e a mim para dar uma voltinhas. A mota só nos transporta mas quem guia somos nós. Há sempre factores externos, pedras na rua, carros que passam, pôr do sol forte em frente a nós na estrada e até um gato bonito a correr à nossa frente. A explicação do mundo e dos acontecimentos não reside em nós, mas aceitação do que o mundo nos oferece está dentro do nosso coraçãozinho. Mas sabes João, eu tenho uma grande móvel de gavetas na minha cabeça onde guardo as histórias. Tenho muitas para te contar. A maior de todas é resumida na nossa fragilidade como seres humanos físicos mas na nossa capacidade tão infinita de criar sonhos, ilusões e paixões e de continuar a acreditar e prosseguir. E o teu tio Pedro era uma pessoa assim, desenhado à luz da irmã, a tua mãe, à luz do exemplo da beleza da vida, da discrição interior, de saber-se amado com loucura por toda a gente que o rodeava. O teu tio Pedro, meu querido João, não era só uma pessoa querida simpática, doce, afável ou boa pessoa. O teu tio Pedro era um espelho de amor. Pede à mamã para ir contigo a um espelho e aponta a luz do relógio, o que vês? a luz reflectida em todas as paredes, em todas as pessoas, em todo o espaço em frente ao espelho. O teu tio Pedro era feito de doçura e amor. A tua mãe é a base de tudo isto. Olha para ela, João, não é bonita? A tua mãe constrói esses espelhos. Gosta muito muito dela e põe a chave desse amor no teu coraçãozinho e ela estará ao pé de ti sempre. Reflectida.
João Maria: este blog é para ti, Kiki e para ti, Zezinho e para ti, para conhecerem melhor o vosso anjo da guarda, que vos protege e vos segue com muito amor - O Tio Pedro. Mano: as saudades são mais que muitas e falar de ti faz com que te sinta mais próximo de nós. Trago-te sempre comigo. Como gosto de brincar com as palavras, por aqui se encontra um bocadinho de tudo.
29 março 2007
A Desenhadora de Espelhos
Não quero falar muito de motas. Por isso começo por aí: porque a mamã tinha uma Bordeaux e eu, uma vermelha. Uma das nossas actividades favoritas aos 16 anos era faltar às aulas de alemão para ir até Almeirim jogar snooker. Andar de mota nos courts de ténis de Santarém, subir todas as ladeiras que podiam ser possíveis com uma acelera (o tipo de mota que tínhamos) e rir à gargalhada sem parar. Chegámos mesmo a encurralar uma velhota que vinha na passadeira: uma de nós passou com a mota pela frente da velhota e a outra por trás, ao mesmo tempo. Não foi muito simpático. A tua mamã que, tinha sempre azar com o seu nariz, conseguiu levantar voo literalmente do banco da mota e aterrar no vidro de trás de um camião. E partiu o nariz. Por vezes à noite, mesmo proibidas pelos nossos respectivos pais lá íamos a Almeirim á noite. A verdade é que nos divertimos muito, João. O vento que nos cortava à cara em cada viagem, os sonhos que se elevavam quando nos sobrepúnhamos no guiador, as gargalhas que ecoavam na recta do tribunal, as ultrapassagens na estrada de campo para Alpiarça. As nossas motas foram ouvintes das nossas memórias, meios de transporte entre cidades, arquivador de poemas e luzes no lusco fusco. As nossas motas chegaram mesmo a ser transportadoras de bolos, queques, quiches, salgadinhos, tarteletes, tartinhas, bolachas, que a mamã e eu fazíamos para ganhar algum dinheiro para as férias e depois íamos distribuir no infantário onde a minha mãe trabalhava, vendíamos a amigos e trabalhávamos por encomenda. Era um bom negócio que a tia Inês tinha ali onde a mamã participava activamente. As motas serviam também como meio de transporte para dar umas explicações à nossa única aluna - a Márcia, as nossas motas foram quase carroças para nos trazerem das vindimas, onde, eu fui mordida grandemente por uma vespa que na perna - entretanto mudamos de ideias e começamos a ir com outra amiga da mamã - a lurdes - de carro, o mini. A minha mota vermelha serviu-me de inspiração para escrever um par de artigos sobre a "vespa", umas motas antigas que marcaram o mundo, isto num jornal onde trabalhei enquanto a tua mamã viveu na Finlândia. Um dia mostro-te e explico-te com pormenor, a alma da vespa e o som que faz quando nos fala ao ouvido. Fizemos coisa proibidas, queríamos coisas proibidas, desbravamos caminhos proibidos. Éramos muito novas e isso era uma coisa normal. As motas fizeram-nos felizes. O teu tio Pedro passou uma grande parte do seu crescimento a ver-nos de um lado para outro com mil ideias e projectos, tinha amigos mais velhos com outro tipo de motas, de vez em quando pedia emprestado a mota à mãe Patrícia e a mim para dar uma voltinhas. A mota só nos transporta mas quem guia somos nós. Há sempre factores externos, pedras na rua, carros que passam, pôr do sol forte em frente a nós na estrada e até um gato bonito a correr à nossa frente. A explicação do mundo e dos acontecimentos não reside em nós, mas aceitação do que o mundo nos oferece está dentro do nosso coraçãozinho. Mas sabes João, eu tenho uma grande móvel de gavetas na minha cabeça onde guardo as histórias. Tenho muitas para te contar. A maior de todas é resumida na nossa fragilidade como seres humanos físicos mas na nossa capacidade tão infinita de criar sonhos, ilusões e paixões e de continuar a acreditar e prosseguir. E o teu tio Pedro era uma pessoa assim, desenhado à luz da irmã, a tua mãe, à luz do exemplo da beleza da vida, da discrição interior, de saber-se amado com loucura por toda a gente que o rodeava. O teu tio Pedro, meu querido João, não era só uma pessoa querida simpática, doce, afável ou boa pessoa. O teu tio Pedro era um espelho de amor. Pede à mamã para ir contigo a um espelho e aponta a luz do relógio, o que vês? a luz reflectida em todas as paredes, em todas as pessoas, em todo o espaço em frente ao espelho. O teu tio Pedro era feito de doçura e amor. A tua mãe é a base de tudo isto. Olha para ela, João, não é bonita? A tua mãe constrói esses espelhos. Gosta muito muito dela e põe a chave desse amor no teu coraçãozinho e ela estará ao pé de ti sempre. Reflectida.
28 março 2007
23 março 2007
04 março 2007
27 fevereiro 2007
26 fevereiro 2007
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viuva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.
16 fevereiro 2007

Ao final do dia o Tio Pedro passou lá para me dar um beijinho de parabéns. O jantar que eu tinha organizado para esse dia com a família ficou adiado para um almoço no sábado seguinte. O Tio Pedro e a Tia Té ofereceram-me de presente um CD dos The_Gift.
09 fevereiro 2007
Recordando 9 Fevereiro 2002
Na altura em que a mãe casou, os avós tinham mudado de casa há pouco tempo e como eu não ia viver lá muito tempo, não contaram com um quarto para mim e eu dormia no quarto do Tio Pedro. Eu passava muito pouco tempo em casa, estava a trabalhar em Lisboa, saía muito cedo e voltava tarde, mas quase todos os dias antes de adormecer falava um bocadinho com o Tio Pedro. De manhã, quando me levantava fazia o menos barulho possível para não o acordar.
No dia do meu casamento levantámo-nos os 2 por volta das 10h, fomos à cidade tomar um café, encontrámos as Bias como é normal encontrar todos os sábados de manhã na cidade e fomos buscar o meu bouquet. De seguida fomos para o cabeleireiro. Eu tinha pedido ao Tio Pedro para me fazer companhia durante toda a manhã e ele assim fez. No cabeleireiro, as primas Zézinha e Nádia fizeram-lhe tudo e mais alguma coisa, ele estava tão nervoso (mais até que eu) que foi deixando, pintaram-lhe o cabelo, puseram-lhe creme na cara, foi só rir! Para mim foi uma manhã muito divertida.
O Tio Pedro estava um bocadinho ansioso, principalmente porque ia fazer uma leitura na missa, mas safou-se lindamente. Estava tão lindo (apesar do cabelo pintado que estava um bocadinho estranho, mas eu disse-lhe sempre que estava muito giro). Na festa tenho a certeza que ele se divertiu imenso, lembro-me que ele ficou na mesa do Quim Zé e ainda foram os 2 acabar a noite no QB.
Nos primeiros dias de casada a mãe às vezes chorava à noite porque sentia muito a falta do Tio Pedro, e o pai ficava um bocadinho assustado. Entretanto, passado pouco tempo de ter casado, mudei de emprego para a Omnitur em Santarém e passei a almoçar todos os dias com o Tio Pedro.
Hoje é um dia de festa para a mãe e para o pai, mas para mim um dia de festa é sempre acompanhado de alguma tristeza, falta-me a presença e o sorriso do Tio Pedro.
Desde que o Tio Pedro morreu nunca mais fui capaz de ver o meu filme de casamento. Quando fores mais crescido vemo-lo juntos.
04 fevereiro 2007
Quando escrevi este texto só te tinha visto uma vez ou duas, mas assim que te vi pela primeira vez reconheci logo o sorriso do teu tio Pedro. Eu conheci o Pedro devíamos ter 7 ou 8 anos e andávamos na primária. Desde do início que nos conhecemos criou-se logo uma grande empatia que mais tarde veio a dar numa grande amizade, na melhor amizade que já tive até hoje. O teu tio foi aquele irmão que eu tinha gostado de ter, com quem passei muitos e bons momentos, com quem cresci e vi crescer, com quem passei muitas tropelias, que esteve sempre lá durante muitos anos sempre com um sorriso inconfundível e capaz de dar sempre o melhor apoio possível. Foi com ele que me diverti, que passei momentos importantes da vida e que aprendi muito. Foi o teu tio Pedro que me pôs a alcunha pela qual ainda hoje todos me conhecem e da qual tenho muito orgulho: Bekas. Vai ser sempre uma marca do teu tio em mim; cada vez que me chamam ou que converso com alguém sobre o Pedro é sempre um assunto que recordo e que me traz muito boas recordações e de que me vou sempre lembrar com o maior dos carinhos. Há coisas que não se descrevem e o que guardo no coração do Costinha são umas dessas coisas. O que guardo dele ainda hoje é sem dúvida a melhor das amizades, o sorriso, a capacidade de estar sempre lá para ajudar e aquela alegria de viver que todos deviam ter, além de muitas recordações que se as descrevesse aqui não sei se haveria espaço para tantos e bons momentos. Nos últimos tempos a vida tomou um rumo que me afastou um bocado de Santarém e levou-me a ver menos o teu tio e apenas falávamos esporadicamente, apesar de muitas vezes dar por mim a pensar nele e de como ele estaria, o que acontece ainda hoje… No dia em que a vida nos levou o Pedro encontrei-o à hora de almoço e falámos um pouco, e do facto de nos termos dispersado um bocado e de que devíamos combinar qualquer coisa para matarmos a saudades. Infelizmente nunca mais tivemos essa oportunidade e muita coisa ficou de certeza por dizer. Aceita isto como um conselho João Maria: mantém sempre os teus amigos perto de ti e nunca percas o contacto com aqueles de quem gostas.
Havia de certeza muito mais coisas para te contar sobre o teu tio, sobre aquele amigo que ainda hoje tem um lugar muito especial no meu coração, um lugar dedicado a um irmão… Acredita que o Costinha foi e será sempre uma pessoa muito especial que deixa muitas saudades. Esteja onde estiver, sei que o teu tio está a olhar por ti e pelos teus e espero que um dia te tornes na pessoa maravilhosa que o teu tio era. Por agora fico por aqui e pode ser que um dia volte a escrever aqui e consiga descrever-te melhor o teu tio.
Bekas
26 janeiro 2007
Férias na neve
19 janeiro 2007
16 janeiro 2007
08 janeiro 2007
Carta da Avó Lena para o Tio Pedro
Quando a mãe tinha a idade com que tu partiste (22 anos) pensei em casar, e logo comecei a amar-te à minha maneira, pois queria muito ter um menino. Entretanto, com a minha primeira gravidez chegou uma menina, a mana Patrícia, que todos recebemos com muito carinho e amor, mas não me preenchia totalmente. Como não desisti do meu menino, ao fim de 6 anos planeei ter mais um filho e lá vieste tu: o nosso Pedro! Eras o bebe mais lindo do mundo, loirinho e gordinho, embora tenhas nascido antes do tempo previsto. O teu nascimento trouxe-nos momentos de muita felicidade vividos por toda a família. A tua irmã passava horas de joelhos ao lado do teu berço a ver-te dormir. Houve também muitos momentos, próprios da idade, em que fizeste muitas diabruras - mas valeu sempre tudo a pena. Fui muito feliz com a tua presença... nos poucos anos que viveste ao nosso lado.
Não me esqueço do dia em que eu estava a trabalhar no Porto e me telefonaste a dizer que ias comprar a mota. A mãe disse que não te ajudava e tu ficaste aborrecido, mas conseguiste o que querias. Eu disse-te que nunca mais ia ter descanso e aquela mota só batia uma vez. Infelizmente eu tinha razão.
A tua imagem naquele trágico dia, à porta de casa a pedires-me para pôr o jantar na mesa que só demoravas 30m, vai viver para sempre comigo. Eu sei que estás num lugar bom e que nos proteges e guias no nosso dia-a-dia, mas a saudade de não te ter é muito dolorosa e não sei até quando vou suportar a tua ausência.
Obrigada por todas as alegrias que me deste, pelo bom amigo e óptimo filho que sempre fostes.
Beijos da mãe e até sempre.
Para ti, meu querido João Maria, terás sempre o Tio Pedro a olhar por ti, sei que ele te amou e ama muito e vai proteger-te na tua vida, que espero venha a ser longa e cheia de coisas boas.
Um beijinho grande.
Avó Lena
07 janeiro 2007
14 de Abril de 2005
João Maria: nesta fotografia tinhas apenas umas horas de vida. Nasceste às 16H55 e por volta das 19H30 tiveste as tuas primeiras visitas. O Tio Pedro estava muito ansioso para te conhecer e para brincar contigo, mas tu estavas muito cansado e só querias dormir. Antes de nasceres ele adorava pôr a mão na barriga da mãe para sentir os teus movimentos. Fazia-te muitas festinhas e falava dos planos que tinha para ti. Recordo com saudade o ar enternecedor com que ele olhou para ti pela primeira vez e o ar de preocupado com que ele perguntou à mãe "E tu, como estás?"
O sorriso do Tio Pedro está tão sincero nesta fotografia que foi a imagem que a mãe escolheu para fazer uns cartões que entregou a amigos e familiares, para que todos o recordem assim: a sorrir!
posted by Patrícia Costa Mateiro
29 dezembro 2006
24 dezembro 2006
Noite de Natal 2006
21 dezembro 2006
20 dezembro 2006
A felicidade exige valentia
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."
19 dezembro 2006

Tenho saudades do teu ciúme com fundamento e dos sem fundamento também. Saudades dos teus medos e da maneira que eu cuidava deles. Saudades da maneira como tu te preocupavas comigo, saudades da tua fraqueza, que me dava força para ser forte. Saudades do nosso primeiro beijo e do último também.
Saudades da nossa vida tão igual e tão desigual. Tenho saudades de quando tu aparecias do nada e me fazias sorrir pelo simples facto de estar ali. Tenho saudades do teu amor intenso, da maneira que tu dizias “eu amo-te” deixando um brilho nos meus olhos. Saudades das tuas mãos nas minhas, a minha boca na tua. Saudades dos meus braços à procura dos teus e dos teus braços procurando os meus.
Tenho saudades dos planos que fizemos, dos nossos sonhos impossíveis que na nossa vida tentamos juntos construir. Tenho saudades de tudo que se realizou e de tudo que não se realizou. Tenho saudades da nossa música que até hoje toca para me fazer sentir mais saudades.
Tenho saudades de dizer “amo-te”. Tenho saudades de ouvir “amo-te”.Tenho saudades de estar contigo, simplesmente por estar. Tenho saudades de tua amizade, da tua força e de tua confiança em mim, em nós. Tenho saudades da tua voz, do teu carinho, da tua paixão, do teu desejo, das tuas loucuras, da tua inteligência, do teu talento. Saudades de ti quando estavas comigo.
Saudades de mim quando estava contigo. Saudades do nosso casamento que não aconteceu. Saudades dos filhos que não tivemos. Saudades da cama que não dividimos. Saudades do futuro que não vivemos. Saudades de ti..”
"Chuva" by Mariza
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir
Há gente que fica na história da história da gente
E outras de quem nem o nome lembramos ouvir
São emoções que dão vida
À saudade que trago
Aquelas que tive contigo e acabei por perder
Há dias que marcam a alma e a vida da gente
E aquele em que tu me deixaste não posso esquecer
A chuva molhava-me o rosto gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera
Aí... meu choro de moça perdida
Gritava à cidade que o fogo do amor sob chuva há instantes morrera
A chuva ouviu e calou meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade”
Estou sentada na minha secretaria a escrever-te esta carta e a pensar nas primeiras palavras que disse à minha melhor amiga, “ O que é que eu faço agora?”…pois é, esta pergunta surge-me todos os dias e continuo sem resposta para esta pergunta embora a resposta seja bastante evidente, a minha mente rejeita-a.
Ao escrever-te esta carta, não só estou a lutar contra o fantasma de alguém que amei e perdi, mas também para que saibas que o teu Tio Pedro foi a melhor pessoa que eu conheci.
Um ano e três meses passaram….mas agradeço pelo teu tio Pedro ter aparecido na minha vida ter-me dado tanta alegria, agradeço por me ter amado e mais do que tudo agradeço pelas recordações que guardarei para sempre.
Embora esteja ainda a lamentar aquilo que poderia ter sido, sinto-me eternamente grata por ele ter entrado na minha vida.
João escrevo-te esta carta, para que saibas que o teu Tio Pedro amava-te muito e para saberes que é possível seguir em frente com as nossas vidas, por mais terrível que seja a nossa dor.
Não sei se os mortos podem voltar para junto de nós e andar junto de nós sem serem vistos por aqueles que os amaram, mas se podem, então não te preocupes, ele estará sempre contigo.
Com amor,
Teresa Cordeiro
18 dezembro 2006
Deus valoriza acima de tudo a vida e tu sempre soubeste valorizar e saborear cada minuto.
Antes de nasceres pedi muitas vezes aos pais que me dessem um irmão e o dia do teu nascimento foi de todos o melhor presente que alguma vez recebi.
Hoje, no dia em que farias 23 anos, agradeço a Deus por esse dia.
Agradeço a Deus pelo teu exemplo de vida.
Especialmente hoje, peço a Deus que me dê força e sabedoria para viver os anos que não viveste.
Eu estou apenas noutro lado, eu sou eu, tu és tu.
Aquilo que éramos um para o outro
Continuamos a ser.
Chamem-me como sempre me chamaram.
Falem-me como sempre me falaram.
Não mudem o tom da vossa voz,
Nem façam um ar solene ou triste.
Continuem a rir daquilo que juntos nos fazia rir.
Brinquem, sorriam, pensem em mim,
Rezem por mim.
Que o meu nome seja pronunciado em casa
Como sempre foi;
Sem qualquer ênfase,
Sem qualquer sombra.
A vida significa o que sempre significou.
Ela é aquilo que sempre foi.
O “fio” não foi cortado.
Porque é que eu,
Estando longe do vosso olhar,
Estaria longe do vosso pensamento?
Espero-vos, não estou muito longe,
Somente do outro lado do caminho.
Como vêem,
Tudo está bem."
Entrega de diplomas nos Bombeiros Municipais de Santarém (28 Dezembro 2005)
À medida que o curso foi avançando, o interesse do Pedro foi aumentando. Para já o facto de ter quase sempre as melhores notas, surpreendia-o muito. “Nunca fui o melhor aluno a nada... ou eu de repente tornei-me mais esperto ou tenho realmente jeito para isto” dizia ele com um sorriso só dele. Dos serviços de ambulância impressionavam-no muito os casos dos idosos que viviam sozinhos, os acidentes rodoviários. De todos, o que mais o impressionou foi o do bebe que faleceu com dois meses nos braços da mãe, a mesma idade que o sobrinho tinha nessa altura.
Quando eu ouvia tocar a sirene dos bombeiros por vezes ligava-lhe a dizer “Vá mano, não és bombeiro? Larga tudo o que estás a fazer e corre para o fogo!” ou quando ele estava de serviço e dizia que tinha saído na ambulância eu perguntava “desceste pelo corrimão como nos filmes?” Outras vezes eu ligava-lhe, aliás eu passava a vida a ligar-lhe, a perguntar onde é que ele estava e ele respondia “Estou no hospital, mas não te preocupes! É um serviço dos bombeiros.”
Podia estar um dia inteiro a trabalhar e ao final do dia em nada sentir-se realizado; enquanto que bastava-lhe um serviço nos bombeiros, aliviando a dor de alguém, para dar sentido a esse dia. Ser bombeiro despertou-lhe sensibilidades que eu e até ele mesmo desconhecia. Depois de ter assistido a uma morte por afogamento na praia do Baleal, adquiriu um kit de reanimação que trazia sempre consigo. Estava sempre pronto a ajudar o próximo!
Fazia parte do seu projecto de vida abraçar esta actividade a tempo inteiro e tonar-se bombeiro profissional. Ultimamente o entusiasmo era tal, que muitas vezes chegou a dizer: “Qualquer dia ainda tiro o lugar ao comandante”.
Que bom sabermos que “aquilo que está para vir é sempre melhor do que aquilo que já foi”. Este era o lema de vida do meu irmão no qual hoje vos peço que acreditem. Acreditem, como eu, que o Pedro nos protege e nos guia no dia-a-dia. Recordemos juntos a sua alegria.

Acreditem que estou num lugar único cheio de pureza,
paz e harmonia que, não me deixa parar de sorrir.
Acreditem que a fé que têm, vos irá unir sempre a mim ao céu.
Acreditem que daqui olho por todos e vos protejo e guio no dia-a-dia.
Acreditem que aqui não há sofrimento, apenas amor e alegria.
Acreditem que a vida continua e que juntos seguiremos unidos pelo amor.
Acreditem que jamais vos esquecerei e daqui olho por cada um.
Acreditem que quando vierem estar comigo vos receberei de braços abertos..."